terça-feira, 13 de maio de 2014

fechei-me na alma...

fechei-me na alma
meus suspiros tocaram a lua
levados pelo sopro do vento
escondo o que me vai no peito
desilusão nua e crua
confesso que o tempo me apoquenta
e o coração lamenta
a queda vertiginosa
a que não está afeito.
revivo silenciosa,
esta rapidez do tempo,
mas não fecho a porta
ao sonho, refugio-me nele
mesmo no limite do tempo.

no lusco fusco da mente
ainda há um vislumbre
frequente,
da juventude e todo o
seu perfume.
pensamentos que travo e destravo
que vêm e vão
num rodopio do vento

ninguém me tolhe o passo
que ninguém ouse querer
sei bem o que quero e o que
faço
a dor que minto da dor que sinto
nada mais quero, apenas querer...

o quanto baste!


natalia nuno
rosafogo



Na plenitude da felicidade, cada dia é uma vida inteira.
Johann Wolfgang Von Goethe


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hei-de morrer serena...

minha estrela é tão fugaz
ao meu olhar entristecido
que já não sou capaz
de olhar minha face no espelho
sem ficar de olhar caído,
dói e dor física não é!
é dormente encruzilhada
vale sombrio...
que emsombra meu pensamento
vazio.

caminho pesarosa
ouvindo no espírito o murmúrio
do mar, onde pouso o olhar
e tudo parece tranquilo
numa realidade teimosa
de continuar a ser aquilo...
mas sou apenas a saudade do
que fui.

o que magoa?
é a alegria dos pássaros
como se não dessem p'la minha
solidão
e esta dor que me fastia até à
exaustão...

onde foi que me perdi
a mim própria me interrogo,
onde me recolhi?
que minha voz murmura no mar
como maresia fina
lá longe à distância
onde me deixei menina.

não venham com pedras na mão
que não valerá a pena
nem me falem com compaixão
todo o dia acaba de novo
principia...
hei-de morrer serena.

natalia nuno
rosafogo




Na plenitude da felicidade, cada dia é uma vida inteira.
Johann Wolfgang Von Goethe


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estado de alma...

toda a água que cabe num cântaro
não cabe nos meus olhos
é este o meu estado de alma.
as nuvens se desfolham
geladas de amargura
jazem na terra dura,
e a dominam,
tal qual meus sonhos
me levam à loucura,
fico na sombra
sou fantasma de mim
sou a infância que me corre
nas veias
sou o vai vem entre o presente
e o passado
sou o vivido e o sonhado
sou o sonho e a quimera,
sou por quem o tempo
não espera...

sou a imensa solidão
o medo do vazio
a despedida do verão
sou agora... o inverno frio.


sou o fim da viagem
sou a que segue de mão estendida
a que se perdeu da imagem
sou lembrança duma vida.


natalia nuno
rosafogo



Na plenitude da felicidade, cada dia é uma vida inteira.
Johann Wolfgang Von Goethe


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o atrás já não existe...

a casa está vazia
batem as portas ao vento
as arvores têm a raiz contorcida
desde que aqui
deixou de haver vida.
o perfume é doce e forte
o assobio dum pássaro
vem lembrar a morte.

o ar torna-se abafado
e uma ruga surge com brusquidão
meu olhar perturbado
só o rio canta
as mesmas cantigas de então...

é como se eu fosse outra pessoa
e já não eu...
já não vejo a colcha de retalhos
colorida
nem a cântara já meio partida
nem o galo de garganta afinada
cantando pela madrugada
como tudo parece abandonado
sempre o tempo
e sua hostilidade
ah...mas do sabor da sopa
chega a saudade...

Há quem diga que é imaginação
mas não é...não!
ouço novidades
trazidas por vozes inquietas
são novas, novas verdades
que vêm de além
da casa de portas abertas
onde já não habita ninguém.


e a voz do vento faz-se ouvir
O atrás já não existe
voa sê livre no pensar,
não negues as asas,
deixa-te voar.


natalia nuno
rosafogo

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Na plenitude da felicidade, cada dia é uma vida inteira.
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saudade, lugar seguro para sonhar...

O mundo não vai compreender estes pequenos textos que são para mim como uma frasco de xarope, e cada um, é um trago de força, uma lufada de ar puro, melhor que outra coisa qualquer que possam imaginar.

Os ponteiros dum pequeno relógio, olham para mim, como se me dissessem: deixa-te disso porque às vezes sofres, mas os seus tiquetaques também são remédio para amortecer o que sinto no peito, surgem imagens flutuantes onde eu sou feliz, com risadas constantes subo ou melhor trepo para o colo de minha avó, como se ela fosse uma montanha, ela me aguarda com a tigela da sopa, a sua voz que era apagada e longuínqua, a ouço agora bem presente, meu rosto tem um tom róseo do calor da lareira, minha avó tem um aspecto macilento, é genuinamente uma mulher da aldeia, olho-a em silêncio e suspiro, que maravilhoso é estarmos juntas, como o mundo parece diferente...este mundo da gente!

Mundo que na sua simplicidade planta sementes de felicidade, nunca me ajustei muito bem a um mundo diferente do nosso, vivo uma hora de cada vez, mas me assusta o tempo e a sua rapidez, o seu rigor, as surpresas do seu fim, que ele me arraste e não me deixe voltar...

Com as pálpebras meio caídas olho as pequenas faúlhas prestes a morrer... como é generosa a oferta da fogueira, nos ramos mortos a arder ainda se vê a seiva como se estivessem a renovar a vida, ou a lutar por ela.

Um lugar seguro para sonhar, mas volto sempre à prisão que é a realidade, onde tenho a liberdade de viver com verdade...o sonho é apenas uma viagem que me deixa viver o momento que preciso, o meu instante, onde sou livre como o vento, onde sou o próprio vento, entro p'lo sonho adentro como pássaro a quem abrem a gaiola, nesta paz do sono onde me abandono.



natalia nuno

rosafogo



Na plenitude da felicidade, cada dia é uma vida inteira.
Johann Wolfgang Von Goethe

choviam ventos no pensamento...

pequena prosa poética


Quem me dera fechar os olhos, deixar-me adormecer naquele lugar onde os sonhos parecem reais, a escrita é o meu espaço, as palavras por vezes são hesitantes, outras deixam de ser minhas amigas, mas também me fazem reencontrar emoções e eclodem em mim visões daquele outro espaço, daquele outro tempo que eu gosto de voltar a sentir.

Lúcida carrego dia a dia o fardo de ver-me envelhecer que é assim uma espécie de tortura, e à medida que escrevo minhas lembranças, os pensamentos carregados se atenuam e eu com subtileza aproveito esses momentos, e é então que crio um elo mais forte com o passado e com o lugar onde nasci.

Absorvo-me na contemplação, de coisas infantis algumas bem insignificantes, como por exemplo quando ficava seduzida pelo vento que passava por mim e me dizia coisas ao ouvido, inventava conversas com ele e com leveza me deixava ir, sonhando ser pássaro voando no imenso céu azul, ou então abrindo pequenos botões de papoila para ver se eram meninos ou meninas consoante a cor com que me deparava, se rosa menina, se branco menino, ingenuidade atravessada de alegria, trazia o sol na boca, meus anéis e colares eram de flores, e meu coração era um barco que navegava no sonho.

Tocava as estrelas com os olhos, apaixonava-me pelas cores do arco-íris, era maré inquieta em rebentação, trazia em mim o odor da maresia e a poesia já p'la mão.



natalia nuno

rosafogo



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Fonte: http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=244899#ixzz31ctrliue

a música que me habitava...

pequena prosa poética


A minha história é uma história comum a qualquer criança que nasce no campo coabita com a natureza desde logo que abre os olhos, e repara nas peónias a rebentar no canteiro, olha as árvores que se enchem de folhas verdes porque rebentam na primavera e esta acabou de chegar, olha o sol iluminando a relva verde dos campos, mastiga um pouco de pão cozido no forno comunitário e quando assim é, nada pode esquecer-se p'la vida fora, nem nada pode mudar-se tal qual não se muda a cor dos olhos ou o perfil do nariz.
A carroça já está pronta para se pôr em marcha, hoje há feira na Golegã e lá vamos todos, com um bom farnel passar o dia, meu pai deixa-me pegar nas rédeas e conduzir a carroça sob o seu olhar atento, e pelo caminho as flores silvestres são um acontecimento para mim, assim como a chegada à feira ao olhar outras crianças de lugares vizinhos. Recebo como mimo duas fiadas de pinhões que penduro ao pesçoço, um algodão doce delicioso e nas trémulas portas do meu olhar surge um brilhozinho de alegria.
À volta venho contente, chegamos já noite apresso-me a descer mas com cuidado da carroça, o sono chega, faço a despedida com um abraço a meu pai e vou descansar num colchão feito de palha de milho bem escamisada e limpa pela mãe.
Era nesta idade que eu tinha um segredo, possuía um piano onde dedilhava enquanto não adormecia, piano que fazia as minhas delícias, não ousava partilhar com ninguém, tinha até medo que mo tirassem, era um tesouro que guardava e era testemunha do meu encanto pela música que misteriosamente se fazia ouvir dentro de mim.
Segredos acumulados a fazer-se no interior da menina...pela fresta do telhado, uma estrela lhe vinha ler a sina e desejar bons sonhos.

natalia nuno
rosafogo




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Johann Wolfgang Von Goethe


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