pequena prosa poética
Deito as tristezas ao largo, até o meu segredo mais sofrido, e o pensamento amargo que às vezes trago comigo e cresce dentro de mim. Nas profundezas da noite...descanso no carreiro que é íngreme, sinto um calor que não é do sol que entretanto se pôs, olho o crepúsculo, deito um último olhar à janela e parece-me ver a chama da candeia, e a saudade me entra no coração, e ali perto a menina com uma fita cor de rosa prendendo seus cabelos, cheia de vivacidade com face dourada e lisa... A vida é o girar duma roda, ontem nossos avós, depois nossos pais, agora nós e já nossos filhos e netos, prontos a suceder-nos nesse girar infinito. É o sol que traz o vento e a vida que traz a morte, fica a frescura da terra com novas sementes de esperança, que depressa fecundarão, dando lugar a novas vidas. Nas derradeiras horas do dia tudo é nostalgia, tudo se cala menos as vozes das cigarras, os tempos são outros e estão mudados, minhas mãos desapontadas, o olhar perdido no céu de estrelas, encosto-me ao postigo, e numa réstia de suspiros, entre sonhos e estrelas cadentes, passeio a minha ternura, por esta terra, por esta gente, por este rio onde coaxam as rãs, e aguardo o pão quente que há-de sair do forno, olho-me nas águas mansas, o tempo apagou o traçado dos meus passos no carreiro que tantas vezes palmilhei, e eu vou ao encontro dos passos que por lá ainda passam, na esperança que hei-de encontrar essa flor de faces rubras tal como a aurora em seus rubores. Vagabundo é o sonho, anda por aí assim! Traz-me sempre saudade de mim...
natalia nuno rosafogo |
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Na plenitude da felicidade, cada dia é uma vida inteira. Johann Wolfgang Von Goethe
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Autor | rosafogo |
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Texto |
Data | 12/03/2013 23:35:43 |
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