pequena prosa poética
Pelo tempo desarmada, trago estradas e atalhos a correrem-me p'lo rosto, mas prossigo serena...abraçada à saudade e ao sonho que tiro da gaveta sempre que preciso sonhar. A luz então em mim se faz tanta, que separo as horas tristes, vivo as restantes, calo a solidão, e, fica apenas aos meus ouvidos o chilrear e o bater das asas que passam razando o telhado e me convidam a apanhar amoras, a bicar figos maduros, a respirar a brisa que vem de lá do rio, e é nesse momento que meus olhos esbugalhados miram as chaminés fumegando...ali fico olhando o fumo branco em direcção às eiras, o sol chegando, clara a manhã, a erva prateada e a água do rio espelhando.
Foi aqui! Aqui que nasci, bem no ventre deste lugar, coberto de orvalho, com o azul do céu lá p'las alturas, e com as romãs a abrir como pássaros querendo deixar a gaiola.
Quantos viveram semelhante sonho? Quantos fruiram tal como eu deste sonho que é crescer na natureza? Só mesmo esses saberão do que falo e desta minha saudade, assim como do meu apego às raízes. Trago na mão restos de primavera e verão, no coração carrego as saudades do largo da praça, e a graça das cachopas do meu tempo com trajes domingueiros dirigindo-se à missa, no seu passo miúdo, esbeltas como se fossem princesas. Ao ouvido ainda soam as músicas bem distintas do açude moendo o trigo e a voz do sino em repetidas carícias, em sussurros enternecidos, chamando o povo à reza do terço...e aos meus sentidos explodindo de saudade há ainda o cheiro das flores abrindo, volto á juventude e ao riso, sonhando sempre que preciso...assim, saudades de mim.
natalia nuno rosafogo |
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Na plenitude da felicidade, cada dia é uma vida inteira. Johann Wolfgang Von Goethe
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Autor | rosafogo |
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Texto |
Data | 05/03/2013 19:30:18 |
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