domingo, 9 de julho de 2023

Piação...do amigo Paulo César



PIAÇÃO (*)
"Gosto de coisas simples.
Simples e belas!"
Versos iniciais do "Velho poema", de Natália Canais Nuno.
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Quando os dedos da mão, que escrevem,
estão unidos pela memória e pelo amor,
a que tantos chamam saudade,
à terra dos solilóquios e das imagens amarelecidas,
é porque as sombras escrevem em segredo
cantatas alegóricas
cujo valor não se traduz em notas de banco,
mas em desbragados baloiços de vai-vem,
como o rumorejar das noras ou o chiadoiro das picotas,
no dealbar duma noite que chegava sempre tão mansamente
que o sono era bálsamo de refrigério
para sonhos com alcatruzes por dentro
e uma paz infinita ao redor.
Quem canta com a voz das coisas simples
- simples e belas -
jamais morrerá de véspera,
ainda que a voz lhe falte e a luz se apague.
Um sol se haverá de erguer na perpendicular da ventania
e um luar virá empoleirar-se na cortina do olhar,
tão manso e suave e fofo,
que ficará para sempre, como água lavada
dos rios da eternidade.
Das coisas simples, simples e belas,
é que explodem rosas em botão,
andorinhas nos beirais,
garças no suadouro dos charcos,
libelinhas na encruzilhada das enseadas,
joaninhas na azáfama dos silêncios,
louva-a-deus na docilidade dos silêncios frugais.
E simples e belas perfumam o tempo,
adornam o espaço
e dão realeza à transfiguração dos elementos.
Morrem e renascem sem pedir licença
e tingem de sons a sobriedade infinita dos dias.
Parta quem parte.
Fique quem fica.
A vida, é arte,
infinitamente rica
nas coisas simples...
Simples e belas!
Em 19.Jul.2020
PC
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